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Foto do escritorTania Tait

A influência da religião na política

Vários elementos influenciam a política, dentre eles, a religião assume um dos papéis preponderantes, desde os primórdios, em todos os povos. Nos anos da ditadura militar, em meio a guerra fria entre EUA e Rússia, os EUA dominaram a América Latina protagonizando golpes militares em todo o continente para barrar o avanço do comunismo (sistema implantado na Rússia), garantir a hegemonia estado-unidense na região bem como explorar os recursos naturais dos países da América Central e da América do Sul.



Junto a isso, as religiões que tiveram papel preponderante ao inserir o medo do comunismo em seus fiéis. Relatos sobre aquele período histórico comprovam que padres e pastores ensinavam as pessoas a identificar os comunistas e informar a polícia, Muitos pastores norte-americanos, também se deslocavam para a América Latina numa cruzada contra o comunismo que entrou no imaginário popular como “os demônios” por serem pessoas que não acreditavam em Deus e, na visão deles, iriam destruir as famílias.


Um relato interessante de uma mulher sobre a ditadura militar é revelador desse fato histórico. Ela, estudante na época, relata que o pastor falava que o comunismo iria deixar as famílias pobres. Ela retrucou pra mãe: “esse comunismo vai deixar a gente mais miserável do que já somos?” Levou bronca, pois pra mãe, o pastor sabia o que dizia. (Relato em Tait, Tania F C,  As mulheres na luta política, CRV, 2020). De acordo com historiadores, essa etapa começa a fazer parte da “teoria do domínio”, na qual se coloca a figura de Deus em todas as ações para dominação pessoal, profissional e política, com uso principal do Antigo Testamento, ou seja, trata-se de um projeto de poder e não de obra do acaso ou de inspiração divina.


Passado o período do governo da ditadura militar (de 1964 a 1985) e com a abertura democrática, os partidos de esquerda voltaram a se reorganizar e criaram-se novos partidos, dentre os quais o Partido dos Trabalhadores (PT), de raízes socialistas. Assim, a partir de 1982, o PT surge, advindo de várias frentes: do movimento sindical, de setores progressistas da Igreja Católica sob a batuta da Teologia da Libertação e das CEBS (Comunidades Eclesiais de Base) e de militantes que atuaram contra a ditadura militar.


Entretanto, mesmo tendo sido eleito por 5 vezes para o cargo maior do país, a presidência, com a realização de programas sociais para melhorar a vida do povo e não ter transformado o Brasil num país comunista, o PT sofre ataques sistemáticos, tanto por adversários como por parte da imprensa, principalmente em período eleitoral. Ataques protagonizados por ativistas da extrema-direita que, com propaganda religiosa e anticomunista,  chegam às vias de fato em sua violência, com agressões físicas e assassinatos, são vistos nos últimos anos, quando o ódio aos contrários na política tomou conta do cenário nacional.


 A partir de 2018, com a ascensão da extrema-direita no poder máximo do país, surge, também, uma nova expressão no cenário nacional, como se fosse um xingamento: “seu/sua petista, seu/sua comunista”, dirigida aquelas pessoas contrárias ao ex-presidente inelegível, mesmo que essas pessoas nem sequer tenham filiação partidária.


Também, expressões como “demônio” ou “ satanás” direcionadas aos militantes de esquerda, seja de qual partido for, são recorrentes nas ruas e nas campanhas eleitorais. Essas expressões demonstram, de forma nítida, a mistura entre as pautas religiosas e políticas, principalmente em itens como diversidade racial e sexual, direitos reprodutivos, relações afetivas, dentre outras, as quais as religiões tem seus dogmas e regras.


Neste cenário, como se estivessem numa batalha épica contra o bem e o mal, muitos líderes religiosos inflamam seus fiéis na condução de ações autoritárias para com aqueles ou aquelas que não comungam da mesma religiosidade. Nessa visão, o bem é exaltado com práticas conservadoras e o mal é simplesmente o “comunismo”.  Infelizmente, isso se reflete nos pleitos eleitorais, não importando se o candidato ou candidata tem processos ou é condenado por crimes. Para esse tipo de influência religiosa, o que vale é se o/a candidato/a é anticomunista, antipetista, antifeminista...e o lado adversário seja relacionado ao “demônio”.  


A História, inclusive, a contemporânea, comprova que misturar religião com política promove o atraso no desenvolvimento cultural e social dos povos, aumenta a violência contra a mulher, negros e as minorias, em geral, segrega as pessoas e causa muito mal à humanidade.


Afinal, religião se trata da fé dos indivíduos que escolhem seguir seus dogmas enquanto que na política, as pessoas eleitas devem servir a toda população, independendo da posição ideológica, da fé ou crença ou mesmo descrença.

 

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