Por Walber Guimarães Junior, engenheiro e diretor da CIA FM.
Preciso falar sobre algo que me incomoda profundamente na atualidade; a quantidade de mentes brilhantes, de pessoas com boa formação e acesso à informação de qualidade que se acha completamente comprometida pela absorção de mensagens, metodicamente distribuídas, que assumem integralmente o receituário de Joseph Goebbels, ministro da propaganda nazista.
“Repita uma mentira cem, mil, um milhão de vezes e ela se tornará uma verdade”, Goebbels, Joseph.
Preciso esclarecer que isto não ocorre por acaso. Por algum tempo, ministrei aulas de Comunicação na graduação e dedicava boa parte do tempo para a Teoria das Comunicações e seus princípios, fundamentais para quem trabalha nesta área por descortinar os mecanismos que conduzem a tradução das mensagens e finalizam o processo de comunicação.
Basicamente, o princípio mais relevante nos informa que temos total propensão a absorver informações que combinem com nossas crenças e, em sinal contrário, rejeitar mensagens que as contradigam. Algo como dizer que Pelé foi melhor que Maradona, com a imediata adesão de todos os brasileiros ou falar do mundial palmeirense para sua torcida, simplesmente porque essa é sua crença e a mensagem reforça suas convicções.
Se, com atrevimento, eu afirmasse neste texto que Maradona foi melhor, seria contestado por todos, considerando que nosso público é de brasileiros, todavia se a declaração fosse a célebre “Palmeiras não tem mundial”, receberia aplausos de todas as outras torcidas, porque, como aprendemos acima, nosso cérebro quer apenas informações que combinem com seus princípios, algo como um algoritmo pessoal que prefere processar informações que se incluam no seu livro de regras, exigindo muito mais tempo para processar dados em contrário, sempre com a disposição inicial de rejeitá-los.
Por dever de ofício, me condicionei a checar toda informação relevante que chega até mim e, deve também ocorrer contigo, me surpreende o volume de fakes news que infestam nossas redes sociais, afirmo com convicção que é raro o grupo de whats onde o volume de fakes é inferior a 70%.
Alguns exemplos clássicos, como a ineficiência das urnas eletrônicas, verdade universal na mente da direita brasileira, ainda que os militares e até o PL tenham sido incapazes de, em auditoria formal, encontrar algo que sustentasse estas declarações. Fiquei atento, exatamente às 18:45 no domingo do segundo turno porque alguns amigos me “provaram” que naquele exato momento Guilherme Boulos chegaria à liderança da apuração da eleição paulistana. E aí? Você também leu este dado revelador, cercado de argumentos comprovatórios?
Sem nenhuma procuração para defender o referido cidadão, inclusive porque o crescimento de seu desproporcional do seu patrimônio é evidente, listei, por um certo período, as fazendas e empresas do Lulinha, filho do homem, e só abandonei a causa quando tive acesso a lista seguinte da Forbes, dos homens mais ricos do planeta, com a inaceitável exclusão do cidadão.
A polaridade obtusa que nivelou política ao futebol e a religião, onde “princípios” não se discutem, gerou também uma preguiça mental absurda na maior parte das pessoas. Checar uma fake news é atividade trivial que, quase sempre, se resolve com uma rápida “googada”, porém, sempre tem o risco do Tio Google contrariar minhas convicções, logo é mais fácil pular esta etapa.
Voltando ao pensador nazista, ele exigiu que o governo alemão vendesse aparelhos de rádio por preços muito acessíveis para que todos os alemães estivessem ao alcance de suas mensagens, todavia, os tempos modernos oferecem o celular como veículo ainda mais rápido para acesso imediato aos algoritmos mentais de quem quer ser alimentado com convicções políticas que, acumuladas, também por metamorfose de algum algoritmo, geram ódio aos que se movimentam em outras direções.
Como radiodifusor, preciso também registrar que o rádio não se presta a esse papel, por tradição e compromisso com a verdade e por suas responsabilidades civis que ainda não atingem as big techs. Emissoras de rádio respondem por seu conteúdo por isso são muito mais responsáveis que as redes sociais e, óbvio, muito mais confiáveis.
Com espaço exíguo, não introduzo o tema do Marco Civil da internet, exceto para registrar o princípio básico constitucional; empresas e pessoas são responsáveis pelos danos que causam, como bem ensinou Dias Toffoli em seu voto nesta questão.
Se antes interessava à Goebbels o domínio completo do rádio, jornais e revistas, agora é a falta de controle que agrega mais valor à luta pela possibilidade de doutrinar cérebros indefesos, principalmente porque não tentam se defender dos ataques diários.
Lembro que afirmei, com certa ousadia e sob a reprovação de muito amigos, que o 7 de setembro de 2021, uma pretensa demonstração de força de Bolsonaro para a sociedade, também tinha inspiração em Goebbels, repetindo os desfiles anuais de Nuremberg. Tenho a sensação de que aquele foi o start da estratégia escancarada de continuar no poder, independente do resultado das urnas, como apontam as atuais investigações.
Espero pela indignação de cada brasileiro, de esquerda ou direita, que se percebe vítima da manipulação das máquinas de disseminação de informações com a inquestionável determinação de dominar cérebros e corações, formando um exército de inocentes úteis, até para serem usados como bois de piranha, na difícil travessia do rio da legalidade.
A correção dos rumos passa pela utilização da mesma intensidade que se combate o inimigo para a busca incansável da verdade, talvez entendendo que para os players principais do jogo político a única meta a ser atingida é a manutenção do poder, se possível dentro das “quatro linhas”, mas, sempre que necessário, pedindo que a torcida invada o campo e mude o resultado.
Sinceramente, não dá para desperdiçar tanta energia agindo como bobo da corte ou sendo apenas mais uma vítima da manipulação. Alguns talvez até pensem na Pátria, mas, esteja certo a prioridade será sempre o poder.
Nem Globo, nem Goebbels, decida por você mesmo. Dá só um pouquinho de trabalho ...
O Sete de Setembro é uma data comerativa da Independência do Brasil, e não para manipulação para tomar o povo dependente novamente de um Tirano