Imagine um jovem parado diante de um espelho, perguntando a si mesmo: "Quem sou eu, de verdade?" Ele está rodeado de vozes que o incentivam a "encontrar sua própria verdade", a "se reinventar" ou a "ser tudo o que quiser ser". Uma considerável parte das pessoas enxerga que a identidade é algo fluido e moldável, que ele (o jovem diante do espelho) tem a liberdade de escolher, mas ao mesmo tempo sente o peso da incerteza. A busca é constante e no fundo, queremos sempre algo mais profundo e verdadeiro, algo que seja como uma âncora e que ofereça sentido além das expectativas mutáveis da sociedade.
Em uma sociedade pós-moderna (líquida, se é que podemos designar nossos tempos assim) ansiamos por uma autodeterminação pessoal; dizemos que queremos construir nossa melhor versão; afirmamos que estamos em construção; sempre em movimento; nunca definidos por uma visão exterior a nós mesmos.
Essa busca incessante por identidade e propósito não é novidade. Desde os tempos antigos, os seres humanos têm se perguntado sobre quem realmente são e por que existem. No entanto, enquanto a Bíblia afirma que os seres humanos foram criados à imagem de Deus, com uma identidade fixa e um propósito definido, a cultura pós-moderna propõe que somos nossos próprios criadores, livres para redefinir continuamente o que significa ser humano.
Esse é o grande engano que pesa sobre nós desde quando o primeiro pecado foi cometido na terra - a necessidade de "controlar" nosso próprio destino e vontade. Foi ouvido no passado que "Deus sabe que no dia em que comerdes desse fruto, seus olhos se abrirão e terão conhecimento" (Gênesis 3).
Desde essa "época" que estamos, como humanidade, tentando negar que Deus tem direito sobre nós, sobre nossa vontade, sobre nosso desejo, sobre quem somos, para, em algum momento da vida, construirmos nosso próprio destino, do nosso jeito, um mundo de acordo com a nossa visão.
No fundo queremos tomar o lugar de Deus em nossa vida e desejamos ser nosso próprio criador.
Desde o primeiro capítulo de Gênesis, a Bíblia apresenta uma visão clara e distinta sobre a identidade e a natureza humana: fomos criados à imagem e semelhança de Deus, o que em latim é conhecido como Imago Dei (Gênesis 1:27). Essa afirmação não é apenas uma descrição poética, mas estabelece uma base sólida para entender o valor intrínseco e o propósito de cada ser humano. Na visão bíblica, a identidade não é uma construção social ou uma escolha individual, mas uma verdade fundamental, definida por Deus e refletida na própria essência do que significa ser humano.
A expressão Imago Dei indica que os seres humanos foram criados para refletir algo do caráter de Deus. Isso significa que, em sua essência, cada pessoa carrega uma dignidade e um valor que não dependem de realizações pessoais, status social ou reconhecimento exterior. Ser feito à imagem de Deus implica possuir qualidades como racionalidade, moralidade e a capacidade de relacionar-se com outros e com o próprio Criador.
Essa identidade fixa oferece um fundamento para questões de justiça, direitos humanos e dignidade, pois reconhece que todos, independentemente de suas circunstâncias, são igualmente valiosos aos olhos de Deus. Em contraste com as abordagens contemporâneas que condicionam o valor humano a características como utilidade ou autonomia, o ensino bíblico estabelece um valor intrínseco, dado por Deus e imutável.
Na visão cristã, a identidade humana não está apenas relacionada à Imago Dei, mas também ao propósito para o qual fomos criados. Deus não apenas nos formou à sua imagem, mas também nos deu uma missão específica. Em Efésios 2:10, Paulo escreve: "Pois somos criação de Deus, realizada em Cristo Jesus para fazermos boas obras, as quais Deus preparou antes para nós as praticarmos." Esse versículo aponta para um chamado ativo, em que a vida humana é dotada de significado e direção que vão além de aspirações pessoais.
Logicamente que o grande propósito de Deus para a humanidade tem a ver com ele, em primeiro lugar, e não conosco. Fomos criados para ele, por ele, por causa dele, para sua glória, para sua exaltação, para que ele pudesse repartir de si mesmo com outros, para que mais filhos e filhas tivessem sua imagem e ele pudesse compartilhar conosco de si mesmo.
Além disso, o propósito bíblico para a humanidade inclui o exercício de mordomia sobre a criação, a busca pela justiça e a vivência de relacionamentos amorosos e restauradores. O senso de propósito não é algo que precisa ser inventado ou construído a partir do zero; é algo que já foi estabelecido por Deus, cabendo ao ser humano descobri-lo e vivê-lo em plenitude.
Embora a criação à imagem de Deus forneça uma base sólida para a identidade, a Bíblia também reconhece a distorção causada pela queda. O pecado entrou no mundo e corrompeu a natureza humana, obscurecendo o reflexo da Imago Dei e criando um distanciamento entre o ser humano e o seu Criador. Essa realidade afeta a compreensão que temos de nós mesmos e do nosso propósito, gerando confusão, incerteza e uma busca contínua por identidade em fontes que não satisfazem.
Vamos continuar com o assunto no próximo artigo.
Nos vemos lá!
Pr. Gedeon Lidório
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