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A falência do nosso sistema representativo.

Por Walber Guimarães Junior, engenheiro e diretor da CIA FM.


Com os bons professores do meu curso de engenharia, aprendi que os números falam, basta saber ouvi-los e, principalmente, traduzi-los. Por isso, tomando o Paraná como base, fui buscar dados para avaliar a força da nossa democracia e do nosso sistema representativo.



Iniciando por uma cidade pequena, Japurá, com apenas 7422 eleitores, 82% foram às urnas, com 77% de votos válidos nas majoritárias e 78% nas proporcionais, com uma abstenção pequena de apenas 18% de não comparecimento. Foram sete legendas disputando as vagas da Câmara, com quatro delas conseguindo eleger vereadores, sendo que 32% dos votantes escolheram um dos vereadores eleitos. Uma rápida avaliação dos números indica uma boa participação da população no processo eleitoral.


Quando escolhemos uma cidade média, Cianorte, com 58755 eleitores, observamos que apenas 75% dos eleitores compareceram às urnas, dos quais pouco mais de 71% tiveram votos válidos. Havia dezenove legendas disputando as eleições proporcionais, com oito delas elegendo representantes, embora apenas uma tenha atingido o quociente eleitoral, com pouco mais de 21% escolhendo um dos vereadores eleitos.


Evoluindo para uma cidade maior, Maringá, com 300 mil eleitores, a abstenção foi superior a 28%, resultando em apenas 67% de votos válidos para prefeito e 66% para vereador, com onze legendas levando pelo menos um vereador para a Câmara e nove delas sem nenhum vereador.


Se formos verificar uma metrópole, Curitiba, a abstenção foi de 27,7%, com apenas 65% de votos válidos para prefeito e 61% para vereador, sendo que pouco menos de 25% dos curitibanos escolhendo um dos vereadores eleitos. Quinze legendas tiveram êxito e nove delas ficaram sem representantes.


O primeiro registro, referente ao número de eleitores, se observa que quanto menor o município, maior o envolvimento da comunidade no pleito e, provavelmente, isto se deva à proximidade com os candidatos. Seguramente todos os eleitores conheciam bem as alternativas da majoritária e isto estimulou a ida às urnas, ocorrendo o oposto nos municípios maiores. Friso que quase um terço dos eleitores votou em um dos vereadores eleitos, conferindo uma sensação muito maior de representatividade, com o eleitor podendo afirmar que o “seu” vereador foi eleito.


Quanto maior o município, menor o interesse na eleição, com o crescimento gradativo da abstenção até o impensável 39% de curitibanos que não votaram para vereador, mesmo com algumas centenas de alternativas.


Se em 2020, podíamos culpar a pandemia pela abstenção, neste ano parece evidente que a ausência tem relação com o desinteresse ou apatia do processo eleitoral. Pesquisas variadas insistiam em uma leitura preocupante; a quinze dias das eleições, metade dos eleitores não sabia em quem votar para vereador e mais de um terço nem mesmo nas majoritárias!


Em levantamentos anteriores, os analistas se preocupavam que os eleitores não se lembravam em quem votaram no pleito anterior, agora a população não sabe e nem tenta improvisar uma escolha nem mesmo no dia das eleições, fato ainda agravado pelo fato de que, pela proliferação das legendas, cada vez menos eleitores “acertam” o voto e, muito provavelmente, não devem se sentir representados pelo eleito na legenda que votou.


Lógico! A essência do nosso modelo informa que, mesmo escolhendo um candidato, nosso voto é na legenda e isto quer dizer que o vereador eleito por aquela legenda será o nosso representante no legislativo se nosso escolhido perder a eleição. Sou capaz de apostar um fardinho de cerveja gelada contra apenas um refrigerante quente que nem 2% destes eleitores sabe quem será, formalmente o seu representante no legislativo.


Conta de boteco; se em média apenas 70% das pessoas comparecem às urnas e no máximo 20% destes votaram em um candidato eleito, você acredita que este eleitor se sentirá representado? Será razoável imaginar que ele tenha interlocutor no caso de ter alguma sugestão ou solicitação para algum vereador?


É razoável imaginar que este sistema representativo está a caminho da falência. Imagine que a votação poderia ser por bairros, distritos, onde o número de opções seria muito menor e, provavelmente, os eleitores conheçam todas as opções, exerça livremente o direito de escolha e, caso seu candidato não seja eleito, saberá exatamente quem o representará e poderá encontrá-lo nas ruas, na  igreja, no mercado do seu distrito, poderá até participar, eventualmente, de reuniões de pauta em associação comunitárias, de bairro, ou poderá até mesmo bater na porta do eleito com alguma reinvindicação. Não lhe parece mais razoável?


A projeção dos números indica que, em duas eleições, apenas a metade dos eleitores estará envolvido na escolha de seus representantes. É justo que se espere o esgotamento do atual modelo para que se busque alternativas?


Mas existe uma alternativa inteligente, consequente, testada e aprovada em vários países. O nome deste modelo é Voto Distrital.


Vamos retornar a esta pauta, mas tomo a liberdade de te sugerir que pesquise um pouco sobre esta opção que pode ser um excelente upgrade para a nossa democracia.

 

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