A história e o papel da igreja nas eleições
A cada eleição presidencial, os Estados Unidos passam por uma temporada intensa de debates, campanhas e polarizações, onde questões de fé e política frequentemente se entrelaçam. A igreja americana, composta por um amplo espectro de denominações e movimentos, desempenha um papel significativo na formação de opiniões e direções de voto. Este envolvimento não é uma novidade recente, mas um reflexo de uma história profunda de engajamento ético e espiritual. Para compreender como a fé cristã influencia o voto, é essencial explorar o contexto histórico e os valores que moldam essa interação.
A herança histórica da igreja na política americana
Desde a fundação do país, a igreja nos Estados Unidos tem influenciado movimentos sociais e decisões políticas. No século XIX, as igrejas tiveram uma participação importante em lutas como o movimento abolicionista, onde pastores e comunidades cristãs assumiram uma posição firme contra a escravidão. Na obra God’s Almost Chosen Peoples de George C. Rable, vemos como a fé moldou não apenas a moralidade pública, mas também forneceu uma base espiritual que inspirou líderes a buscar a justiça e a igualdade. A presença cristã continuou impactante durante a Guerra Civil, onde líderes religiosos mobilizaram suas congregações para apoiar causas que eles acreditavam representar a vontade de Deus.
Já no século XX, a igreja voltou a desempenhar um papel ativo na luta pelos direitos civis, particularmente entre cristãos afro-americanos. Movimentos liderados por figuras como Martin Luther King Jr. exemplificam como a igreja usou sua influência para defender a justiça social e os direitos das minorias. Frances FitzGerald, em The Evangelicals: The Struggle to Shape America, mostra como essa influência evoluiu e assumiu novas formas à medida que o movimento evangélico crescia, formando alianças e assumindo posições de destaque em temas políticos que ainda hoje ressoam no cenário eleitoral.
Valores cristãos que influenciam o voto
Para muitos eleitores cristãos, questões como a defesa da vida, a liberdade religiosa, a dignidade humana e a justiça social são cruciais na hora de decidir em quem votar. A defesa da vida, por exemplo, é amplamente vista nas igrejas evangélicas e católicas, que frequentemente priorizam candidatos alinhados com uma postura pró-vida. Além disso, a liberdade religiosa e o direito de praticar a fé sem restrições governamentais estão profundamente enraizados na experiência cristã americana.
Esse aspecto é discutido no livro Divided by Faith: Evangelical Religion and the Problem of Race in America de Michael O. Emerson e Christian Smith, que aponta como certas questões éticas e morais são vistas por cristãos americanos como mandamentos divinos, levando as igrejas a posicionarem-se politicamente para defendê-las. O mesmo livro também examina as tensões internas e divisões que surgem entre cristãos de diferentes etnias e contextos sociais, destacando o desafio de uma igreja que luta por princípios éticos em um cenário social complexo.
Polarização e a desafiante unidade da igreja
A política americana está cada vez mais polarizada, e essa divisão penetra nas congregações, onde, muitas vezes, a discordância política se torna motivo de separação e ressentimento entre os membros. Pastores e líderes encontram-se numa posição delicada: de um lado, desejam ser fiéis à Palavra de Deus e aos valores cristãos, e, de outro, enfrentam a tarefa de manter a unidade em suas igrejas. Romanos 14:1-3, que fala sobre a importância de acolher o outro em suas diferenças, serve como um guia importante para cristãos que tentam equilibrar suas opiniões políticas e sua irmandade em Cristo.
James Davison Hunter, em seu livro To Change the World, argumenta que a fé pode ser uma força poderosa de transformação cultural sem ceder à polarização destrutiva. Ele sugere que os cristãos devem buscar uma influência positiva, que ultrapassa o partidarismo, oferecendo um testemunho de esperança e paz. A obra One Nation Under God: How Corporate America Invented Christian America de Kevin Kruse também examina como o alinhamento de valores religiosos com certos partidos intensificou divisões, e questiona se a igreja pode, de fato, promover uma moralidade universal sem ser absorvida pela lógica partidária.
Penso que a Igreja vive (ou deve viver!) uma certa utopia, onde podemos olhar e desejar o ideal de Deus para nós, sem que isso seja uma imposição de nossa parte, porém, é certo que a corrupção, o medo, o poder, o afrouxamento dos padrões e tanto mais, impera em um mundo corrupto que jaz no maligno.
Vamos continuar com esse assunto no próximo artigo.
Até lá!
Pr. Gedeon Lidório
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