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2025; transição ou definições?

Por Walber Guimarães Junior, engenheiro e diretor da CIA FM.


Como parceiros de uma dança interminável, economia e política seguem no mesmo ritmo por todo o tempo. Por mais contundentes que sejam as razões de um dos fatores, raramente ocorre o desgarramento, tornando a tarefa de entender a ambos ainda mais complexa. Logo projeções de um, dependem do humor do outro.



Recuperados dos excessos das festas de fim de ano, para tentar entender o momento político e projetar 2026, importa olhar o vento da economia para uma leitura mais confiável. O problema é que, pelo menos do primeiro semestre, teremos muito mais transição do que definição na área econômica e tudo porque o furacão Trump promete ventos fortes, tempestades, talvez acompanhados de muita desconstrução, com potencial para impactar a economia mundial, em especial países que se movem nas esferas de influência americana e chinesa, como o caso brasileiro.


Basta que Trump cumpra, ainda que parcialmente algumas de suas bravatas eleitorais para que as variáveis econômicas sofram interferência significativa. Especialistas avaliam que as taxações prometidas, entre 20% para países com forte presença na balança comercial chinesa, como nós, até 60% ameaça velada contra as importações chinesas, para que o crescimento da economia mundial sofra impactos generalizados que podem reduzir em até 20% a taxa de crescimento destes países.


Todos sabem que Trump é um ótimo jogador, consegue distribuir as cartas e ainda jogar cacifado pela economia e moeda mais forte, causando os efeitos desejados, antes mesmo das ações, como um blefe bem-sucedido no pôquer econômico, tornando possível uma acomodação mais suave, sem maiores impactos na economia dos demais países.


Para além do efeito Trump, o Brasil precisa enfrentar seus principais problemas, como o déficit fiscal como inimigo número 1 por sua capacidade de interferir nos demais fatores e minar a credibilidade da economia e do governo. Para desespero de Haddad, que queria muito mais, as tímidas medidas do pacote de fim de ano serão insuficientes para reduzir os danos e a margem de manobra do governo é limitada pela margem mínima de governabilidade que resta fora do esquadro orçamentário.


Enquanto os números do déficit não apontarem para baixo, os demais parâmetros, juros e câmbio em especial, seguem como biruta maluca ao sabor dos ventos e esta fase de transição dos rumos da economia não permite nenhuma segurança para definições mais conclusivas até no jogo político.


Por conta desta leitura econômica, 2025 será muito mais de transição do que de definições em relação às eleições majoritárias de 2026. Contribuem também para isto, o excesso de variáveis em aberto, nos dois polos principais, que comprometem a revanche projetada entre Lula e Bolsonaro.


Jair Bolsonaro terá preocupações mais urgentes que o jogo político, sendo razoável imaginar que encerre o ano com novas condenações e uma distância ainda maior da disputa eleitoral. Por conta de seu temperamento, é muito mais difícil imaginar que se submeta ao martírio que, sem entrar no mérito, atingiu Lula. De maneira bem objetiva, superadas as possibilidades jurídicas, o exílio político, Itália, Uruguai ou EUA, são hipóteses muito mais prováveis que privação de liberdade.


Com frieza, sabendo que as delações salvadoras sempre apontam para cima, é razoável imaginar que novos depoimentos podem montar um mosaico que complique a vida de Bolsonaro, assim como projetar que, e, algum momento à frente, com a direita no poder, a anistia ou verificação de penas, promova o retorno e talvez até a “beatificação” de Bolsonaro, em sintonia com a tradição da cultura brasileira de ressuscitar ícones.


Assim que as pedras no caminho de Bolsonaro forem intransponíveis, o governador Tarcísio terá que tomar a decisão crucial; abandonar a reeleição provável pela disputa, talvez até como favorito, mas muito mais difícil sucessão presidencial. Vencidas as etapas 1, Bolsonaro, e a etapa 2, Tarcísio, as apostas estarão em aberto com muitas possibilidades, Ratinho, Caiado, Marçal, Michele e Zema apenas para ficar nas mais óbvias.


Qualquer deles que consiga unir o arco direito, incluindo os imprescindíveis PSD e MDB, podem enfrentar Lula ombro a ombro. Sem Kassab e o MDB, a direita pode permitir o Lula 4.


Todavia, ainda que Lula seja o candidato inquestionável da esquerda, sua saúde debilitada, somada a cor amarela da sua certidão de nascimento podem indicar a necessidade das esquerdas de criar alternativas, por ora limitada aos nomes do petista Haddad e do vice Alckimin, nenhum deles com o carisma do atual presidente.


Observe que foi apenas uma leitura simplificada e ainda assim com muitas variáveis que permitem projetar 2025 como um ano apenas de transição, reservando as fortes emoções políticas para 2026.


Bem , não se esqueçam, 2025 tem Trump de novo e com ele a imprevisibilidade é a regra.

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